16 de dez. de 2011

Ratos - Conto que está na final do Mapa Cultural Paulista.


Ratos

Acorrento Odisseu. Há ratos. Odeio ratos. Antes não haviam ratos na América. Os europeus trouxeram os ratos. Nenhum flautista. Somente ratos. Os ratos eram de todos os cantos da Europa. Acredito nisso porque uns comeram meus Baudelaires, outros meus Nietzsches e até um Platão foi levemente beliscado. Mas a gota d`água foi quando aprenderam português. Enquanto comiam revistas e jornais eu não me importava. Outro dia cheguei em casa e minha doce Clarice estava em frangalhos. Fossem as baratas, tudo bem, teriam esse direito. Mas ratos, não! Comprei veneno. Um barato. Espalhei pela casa. Longe do Odisseu. Odisseu é meu cão. Meu cão europeu. Cão europeu que come ração cara. Algum desígnio divino o fez livre. E assim como Odisseu foi para muito longe, Odisseu foi muito além. Odisseu conheceu Cleópatra. Eu não.

25 de nov. de 2011

* A imagem central é a última (9), as outras estão na sequência (de acordo como elas estão expostas no MAC).
 Série Trágica de Flávio de Carvalho – Uma tradução.
Feita durante visitação à exposição que está no MAC Ibirapuera
com a turma de pós da Prof. Carmem Aranha.

1. Minha mãe está morrendo. O suor em sua face revela seus humores em convulsão. O cansaço de lutar contra essa morte. A favor de uma vida, exauri suas forças.
2. Um sono que por instantes foi tranquilo, revela uma mão tensa, quase um sinal, dizendo para esperar mais um pouco, nem tudo foi dito.
3. A dor se mostra terrível. Marca seus traços. A boca emite um ruído mudo contra uma visão que está em seus olhos fechados.
4. Passou. Ainda estou viva. Ainda tenho um sopro de vida e isso me acalma, me conforta, me faz ser o que sou: mãe.
5. Prescinto que não posso mais lutar. O momento está chegando. Tenho meu último sonho, tomo meu último ar.
6. Ela chegou! Arranca minha vida de forma violenta. Meu corpo se nega a aceitar. Me agarro como posso.
7. O último suspiro se foi. É apenas a alma pendendo seu último fio de vida, seu último sopro de existência.
8. Ficou o cansaço do corpo, mas que não sinto mais. Apenas carne sem vida. Exausto. Exaurido.
9. “Essa não é mais minha mãe”.

2 de out. de 2011

18 segundos x 21 gramas.

O que mais desejam hoje em dia é a individualidade, que respeitem seu espaço, sua privacidade. Porém isso é o motivo do que, talvez, seja o maior mal do nosso tempo: a solidão. Quantos minutos separam a instrospecção da solidão? Dois? Dezeoito? Vinte e um? Uma vida? O meu é perigosamente alto. Acho que de todo artista seja, senão não consegue ser artista; e ai, tem que ser gente. Ao meu ver esse filme fala disso: que só quando perdemos 21 gramas* é que percebemos que cada segundo contém uma vida, perdida numa humanidade.


* é conhecido como o peso da alma.