11 de dez. de 2013

3. O Homem Político.

Oi!!!

3 - O Homem Político.

   Quem tem quarenta, pegou na infância o final da ditadura. Já bem mais branda, mas com aqueles resquícios de ter que cantar o hino nacional toda semana e fazer aula de Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política Brasileira (OSPB). Tive a sorte de ter no Colégio (sim, estudei como bolsista em colégio particular), uma professora bem questionadora que me marcou bastante, pois até fizemos uma peça, Pássaros e gaviões de Chico Alencar; que tem o poema do Mario Quintana: "Todos esses que aí estão, atravancando meu caminho, eles passarão, eu passarinho".

Quino


   Presencie as diretas já e o período de transição, encabeçado pelo Tancredo Neves, e que caiu na desgraça que foi o governo Sarney. Lembro que tirei dez no meu trabalho sobre a transição democrática, já na Escola Técnica Federal de São Paulo. Na primeira eleição para presidente não pude votar, eu fazia aniversário quatro dias depois das eleições, mas foi a primeira vez que participei ativamente na campanha, a famosa Lula-lá. Naturalmente já tinha uma tendência pela esquerda, apesar de meu pai ser um Malufista nato, defensor da ditadura militar.

   Logo depois participei en passant dos caras pintadas que culminou com o impeachment do Collor. Um tempo no exterior e na volta o amadurecimento do meu pensamento político. Eu tendo para um social democrata. E em tese o PSDB deveria ser meu partido, mas ele tendeu para uma direita neo liberal. E na época o PT, como oposição, era demasiadamente socialista.

   Veio o período de faculdade, a FFLCH-USP, assumidamente marxista. E apesar de teoricamente ser muito bom o marxismo socialista, assim como na República de Platão, ele requer homens bons. E aí eu concordo com Hobbes, que não existem homens bons, como ele diz: "O homem é o lobo do homem". E essa verdade no neo liberalismo talvez seja mais devastadora ainda.

   Finalizando, esse meu socialismo democrático, prevê uma distribuição de renda mais equilibrada, serviços básicos (educação, saúde, transporte, cultura, moradia) com qualidade e acessíveis. Como já trabalhei no serviço público consigo visualizar melhor o funcionamento e digo; a burocracia atrapalha um funcionamento mais eficiente de todos esses serviços, mas por outro lado, é ela que previne/ameniza as fraudes no âmbito público. Como consequência mais direta, ocorre o desperdício de trabalho, tempo e dinheiro; aumentando consideravelmente o custo do sistema público.

   Enfim, poderíamos até ter um sistema ditatorial bom, tanto de direita quanto de esquerda, contanto que tivéssemos governantes bons que fizessem bons governos. Mas eu prefiro a democracia e nela produzir homens mais próximos do homem e mais distantes do lobo.

Sidnei Akiyoshi.

6 de dez. de 2013

2. O corpo padece.

Oi!!!

   Seguindo os posts sobre o pós 40, vamos falar sobre algo bem palpável. O corpo.

   2. O corpo.

   Sim, o primeiro a sentir que os 40 anos chegaram é o corpo. Você olha no espelho e vê algumas rugas que não haviam, os primeiro cabelos grisalhos começa a aparecer, no meu caso já tenho desde os 30, mas agora estão começando a ganhar visibilidade, o que eu acho bem charmoso. Você aperta sua pela e ela começa a te mostrar o envelhecimento. Mas é no físico que aparecem os principais sinais. Antes você virava a noite, bebia todas e no dia seguinte bebia uma coca e um café e já tava novo, agora você fica uns dois dias se prometendo que nunca mais fará isso novamente, pois fica dias como um zumbi. Os exercícios também, antes você podia ficar semanas sem jogar bola, ia para uma chácara jogava o fim de semana todo e tudo bem. Hoje, se ficar sem a prática contínua de exercícios, uma corridinha já é motivo para dias seguidos de dor e paracetamol. Aqueles dias na praia sob o sol sem proteção também começar a dar o ar da graça, manchinhas na pele começam a pipocar, tímidas, mas você já sabe onde vão parar.



   Na antiguidade a barba era o sinal de que você efetivamente já era um homem adulto. Eu tenho pouca, mas só recentemente meu bigodinho ganhou forma. E apesar do modismo de barbados dos anos 10, é um sinal visível da maturidade (tá é preguiça mesmo de fazer todo dia). Mas é um período em que você para de pensar em pintar o cabelo de vermelho, de comprar roupas que o pessoal de 20 está usando e que comer o cachorro-quente da esquina já não é tão legal assim.

   Enfim, seu corpo precisa de outras coisas, um exercício menos puxado, mais eficiente e mais prazeroso, menos drogas (lícitas e ilícitas), ou melhor, outras drogas (comprimidos, pomadas, loções, etc), uma recauchutagem no que for preciso e por fim novos acessórios, pois você tá ficando velho mas não necessariamente menos estiloso. E claro, uma rotina com coisas que só a idade trás, como boas leituras, bons vinhos, bons passeios, boas conversas, boas trepadas, boas novas histórias, pois não saber como chegou em casa depois de uma noitada, já é meio batida.

Até mais.

Sidnei akiyoshi.

26 de nov. de 2013

1 - Kintsukuroi.

Oi!!!

   Hoje começo o primeiro de dez postagens sobre o pós-quarenta. Tentar colocar aqui um pouco do que aprendi e outro pouco do que espero.

   Começando com esse conceito japonês: Kintsukuroi:



  Reparar com ouro. Perceber que determinadas peças (porcelanas) são tão valiosas, que quando quebram, são reparadas com ouro.Ou seja, uma peça feita de barro tem tanto valor que o ouro é utilizado como argamassa.

   E aí vem a reflexão: o que é tão valioso na vida que mesmo quando quebrado merece ser reconstituído? A família? A amizade? As posses? O conhecimento? A honestidade? O caráter? Não posso deixar de reafirmar aqui que esse blog fala sobre contemporaneidade, ou seja, sobre o que estamos vivendo, mesmo que não entendamos direito o que se passa. Eu diria que a liberdade é nosso bem mais valioso. E não a liberdade stricto senso, mas a existencial. Estamos amarrados em inúmeras regras sociais que nem nos damos contas. Regras que decidem o que é uma família, como conquistar amigos, o que ter ou não ter, o que aprender, como se comportar, e por aí vai. Não que devamos criar uma anarquia e sair fazendo o que der na veneta, mas construir sua vida de acordo com aquilo que você acredita, mantendo um caráter reto. Pois sem caráter, a tendência é fazer pelo caminho mais proveitoso para si independente de terceiros.

   Assim, com livres escolhas, fica mais fácil encontrar os caminhos que levam a sua verdade. Consequentemente, a uma vida livre e mais perto da felicidade.

   Sidnei Akiyoshi.

20 de nov. de 2013

Ok. 40. E agora?

Oi!!!

   Ontem fiz quarenta anos. Então, e agora?

   Sinceramente não sei muito bem, talvez porque não me sinta com quarenta anos. Ter essa cara de trinta e bem poucos ajuda bastante. Mas a referência que temos são nossos pais aos quarenta e eu me vejo bem diferente dele.

Sim, sou eu. Foto: Gerson Roldo.


   Primeiramente o fato de não ter filhos, principalmente adolescentes, faz uma grande diferença. Não ser pai é significativo, não ter que cuidar de alguém ou passar algo para alguém, acredito ser o maior diferencial; nem bom nem ruim, só diferente. Estar inserido no mundo tecnológico também dá a sensação de que estou falando as mesma língua de quem tem vinte anos. Ser uma pessoa que toma cerveja, come sanduíches, chupa balas, toma picolés, tudo com naturalidade, também não me remete ao que seria esse homem de quarenta anos. Pois como disse, esse homem de quarenta idealizado em minha cabeça usa terno, bebe destilado, come "comida", só anda de carro e passa férias com família na praia.

   Mas deixando os estereótipos de lado, os quarenta nos trazem coisas bem interessantes. Você tem mais certeza que vai morrer, pois as pessoas mais velhas com quem convive estão começando a morrer. O tempo tem outra dinâmica, ganha finitude. A relação com as pessoas se torna menos idealizada. Você percebe que as pessoas não são como gostaria que fossem, algumas são mais legais, mas a maioria são bem mesquinhas mesmo; e sim, você tem que conviver com a maioria delas. Você  fica mais egoísta, afinal terá menos tempo e passa a pensar mais em si, e em contrapartida dá mais valor às poucas pessoas que realmente valem a pena dividir seu tempo. E percebe que é hora de colocar tudo numa balança para saber o que já foi feito, o que precisa ser refeito e o que precisará começar a fazer.

   No meu caso específico, acredito estar em vantagem. Tenho uma boa biblioteca (real e existencial), já viajei bastante, já trabalhei em  muitas coisas (boas e ruins), já tive muito dinheiro e nenhum dinheiro, já estudei bastante e com qualidade (mas tem muito mais), já me diverti bastante (na infância e na juventude), e já chorei e amei com intensidade.

   Pensando nisso, existem poucos arrependimentos e muitas comemorações. Assim, o que fazer após os quarenta fica mais fácil, pois eu não preciso viver a idade do lobo e voltar aos vinte para fazer algo que deixei de fazer, e sim utilizar tudo o que vivi até os quarenta para construir essa vida que começa. Como um amigo me disse uma vez: "Você não nasceu com o cu pra lua, mas com todos os órgãos genitais arreganhados para ela". Vou tirar proveito disso e transformar esse segundo tempo numa goleada e fazer desse 5x0 num vira cinco, acaba dez.

   Então. E agora? Agora é hora de começar essa vida sem tantas perspectivas, ser mais cubistas, mas sem ser dadaísta, até chegar numa abstração conceitualista. Então, quer vir junto?

   Sidnei Akiyoshi, agora na versão 4.0.

12 de nov. de 2013

Oi!!!

As vezes não sabemos o que escrever.... talvez já tenha sido escrito...


          TABACARIA
    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

    Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
    Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
    E não tivesse mais irmandade com as coisas
    Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
    A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
    De dentro da minha cabeça,
    E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

    Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
    Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
    À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
    E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

    Falhei em tudo.
    Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
    A aprendizagem que me deram,
    Desci dela pela janela das traseiras da casa.
    Fui até ao campo com grandes propósitos.
    Mas lá encontrei só ervas e árvores,
    E quando havia gente era igual à outra.
    Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

    Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
    Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
    E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
    Gênio? Neste momento
    Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
    E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
    Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
    Não, não creio em mim.
    Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
    Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
    Não, nem em mim...
    Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
    Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
    Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
    Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
    E quem sabe se realizáveis,
    Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
    O mundo é para quem nasce para o conquistar
    E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
    Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
    Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
    Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
    Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
    Ainda que não more nela;
    Serei sempre o que não nasceu para isso;
    Serei sempre só o que tinha qualidades;
    Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
    E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
    E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
    Crer em mim? Não, nem em nada.
    Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
    O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
    E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
    Escravos cardíacos das estrelas,
    Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
    Mas acordamos e ele é opaco,
    Levantamo-nos e ele é alheio,
    Saímos de casa e ele é a terra inteira,
    Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

    (Come chocolates, pequena;
    Come chocolates!
    Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
    Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
    Come, pequena suja, come!
    Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
    Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
    Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

    Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
    A caligrafia rápida destes versos,
    Pórtico partido para o Impossível.
    Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
    Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
    A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
    E fico em casa sem camisa.

    (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
    Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
    Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
    Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
    Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
    Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
    Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
    Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
    Meu coração é um balde despejado.
    Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
    A mim mesmo e não encontro nada.
    Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
    Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
    Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
    Vejo os cães que também existem,
    E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
    E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

    Vivi, estudei, amei e até cri,
    E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
    Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
    E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
    (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
    Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
    E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

    Fiz de mim o que não soube
    E o que podia fazer de mim não o fiz.
    O dominó que vesti era errado.
    Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
    Quando quis tirar a máscara,
    Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho,
    Já tinha envelhecido.
    Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
    Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
    Como um cão tolerado pela gerência
    Por ser inofensivo
    E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

    Essência musical dos meus versos inúteis,
    Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
    E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
    Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
    Como um tapete em que um bêbado tropeça
    Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

    Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
    Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
    E com o desconforto da alma mal-entendendo.
    Ele morrerá e eu morrerei.
    Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
    A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
    Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
    E a língua em que foram escritos os versos.
    Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
    Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
    Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

    Sempre uma coisa defronte da outra,
    Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
    Sempre o impossível tão estúpido como o real,
    Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
    Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

    Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
    E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
    Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
    E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

    Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
    E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
    Sigo o fumo como uma rota própria,
    E gozo, num momento sensitivo e competente,
    A libertação de todas as especulações
    E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

    Depois deito-me para trás na cadeira
    E continuo fumando.
    Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

    (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
    Talvez fosse feliz.)
    Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
    O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
    Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
    (O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
    Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
    Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
    Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

  • Álvaro de Campos, 15-1-1928

24 de out. de 2013

Felicidade: com ou sem cobertura?

Oi!!!

   Desculpe o atraso, estava em trânsito. :D.

   Estava pensando sobre o que escrever quando vi este post:






   Primeiro porque a relação sorvete e felicidade são bem próximas. Ambas necessitam de uma situação específica para acontecer (no caso do sorvete um local refrigerado), são gostosas, porém fugazes. A vida é assim, desculpe aqueles mais otimistas que acham que tudo é uma maravilha, mas se formos colocar preto no branco as coisas são assim, muito arroz com feijão (te alimenta, é até bom, mas enjoa). E claro tem os momentos pão duro, que é osso, muita gente passa e não desejo para ninguém.

   Quanto a felicidade, segue o mesmo pensamento do amor platônico, é baseada em desejo. É como num jantar, já senta pensando na sobremesa que é o ápice da refeição, o doce que trará a felicidade. Vem pouco, dura pouco e mesmo que você repita (o que não é elegante) não tem o mesmo gosto, pois você já satisfez os eu desejo. E aí você tem que esperar novamente a próxima refeição com sobremesa para se satisfazer. Em resumo é isso, a espera pela realização de um desejo, quanto mais demorado mais plena. É claro que se demorar muito vira frustração.

   Quanto a comprar, isso vai um pouco contra esse ideia. Pois se você tem acesso imediato a qualquer desejo, o desejo em si se perde. E sem desejo não tem felicidade. E venhamos e convenhamos, comer sobremesa o tempo todo enjoa.

Sidnei Akiyoshi.


2 de out. de 2013

Caríbdis

Oi!!!

   "Não saber de si é viver. Saber mal de si é pensar. Saber de si, de repente, como neste momento lustral, é ter subitamente a noção da mónada* íntima, da palavra mágica da alma. mas essa luz súbita cresta tudo, consume tudo. Deixa-nos nus até de nós." Livro do Desassossego - Fernando Pessoa.

   *Leibniz usa constantemente a expressão substância simples quando se refere à mónade. Cada mónade apresenta-se, neste sentido, como um mundo distinto, à parte, próprio - mas também como unidade primordial que compõe todos os corpos.

    As pessoas insistem em viver. A ignorância de si mesmo é ao mesmo tempo um bem, faz com todos acreditem na esperança, e um mal, pois as mantém longe do conhecimento de si. Pois dentro da ignorância não importa o que você faça, não sabem o que estão fazendo, portanto não há culpa ou responsabilidade. E a maioria prefere ficar assim. Responsabilidade é um peso que ninguém quer.

Caríbdis - William Pye


   O problema é quando decide saber de si. O que em si já é difícil, pois como Pessoa diz, cresta tudo, consome tudo. E você se vê jogado num redemoinho. A morte seria um bálsamo, pois já não há motivo para temê-la. Já que a solidão que se manifesta e toma conta de tudo e devasta as almas mais esperançosas. Resta tentar acordar os outros para dividir essa dor, essa solidão. Mas em geral, as pessoas preferem tomar a pílula azul. E a você só resta fazer arte, a única forma de comunicação entre esses dois mundos.

Sidnei Akiyoshi

25 de set. de 2013

Incubação.

Oi!!!

   De tempos em tempos as pessoas precisam de um tempo de incubação. Algumas pessoas chamam de férias, outras de retiros espirituais, outros de ficar sozinho mesmo. Mas as pessoas cada vez menos conseguem fazer isso. Antes as pessoas programavam tantas coisas para fazer no período em que não estavam fazendo aquilo que faziam em seu cotidiano, que quando percebiam, já tinham que voltar a fazer novamente. E hoje com a tecnologia, as pessoas não conseguem se desligar efetivamente da vida cotidiana. E aquele momento em que deveria ser só seu, está literalmente compartilhado.

   Quem trabalha no mundo acadêmico tem um período que chamam de sabático; ou seja, umas férias estendidas onde deixam para trás seu mundo de pesquisa e vão fazer outras coisas, geralmente isso dura seis meses. Isso é importante não só para descansar, mas também para terem um afastamento daquilo em que estão imersos por tanto tempo. Além de refrescar as ideias, ganham novos ares para retornar mais arejado.


Arte: Cathy Rose




   Vale a pena refletir sobre isso, e se puder refletir de forma mais intensa, melhor ainda. Incube-se, quem sabe se o futuro não lhe reserva asas.

Sidnei akiyoshi.

20 de set. de 2013

Fugaz.

Oi!!!

   Tá eu sei, dia 15 eu não postei nada. Sorry. :).

   Hoje vou falar sobre fugacidades. Para quem não sabe fugaz é aquilo que é efêmero. Tá ficou mais difícil. É aquilo que passa muito rápido. Ontem eu assisti na TV ao show do Metallica, foi muito bom. Mas me lembrou que eu fui a um show deles a quase vinte anos atrás. Eu até conseguia sentir o cheiro de suor com cerveja que é característico de shows. Me dei conta que se passou muito tempo. E passou muito rápido.

   Apesar dessa constatação da velocidade, não acho que foi vazio, pelo contrário, acredito que fiz tudo o que gostaria de ter feito; fui aos shows que gostaria de ter visto, morei em locais que gostaria de ter morado, visitei locais que queria ter visitado, comi coisas que gostaria de ter comido e amei pessoas que gostaria de ter amado. Talvez pela quantidade de coisas feitas o tempo tenha corrido como correu.

   Então quando olho para as inúmeras possibilidades de escolhas que as pessoas tem hoje (acreditem, antes era bem reduzidas: eu tinha um Atari, hoje existem vários consoles), fica a sensação de que as escolhas tem que ser muito mais cuidadosas. Qual banda escolher assistir quando elas tocam no mesmo momento? Eu acredito que seja qual for, tem que ser aproveitada com deleite. Assim como quando você colhe uma flor, ela começa a morrer naquele instante, então é necessário aproveitar sua cor, sua fragrância, seu toque, pois sua vida é fugaz. A sua também. E isso vale para tudo na vida, os amores, os amigos, as viagens, as comidas, as músicas... e daqui vinte anos você vai olhar e sorrir daquela escolha; a outra poderia até ter sido melhor, mas ela não fez parte da sua vida, e essa sim.






Sidnei Akiyoshi.


10 de set. de 2013

Santa Vilania, Batman!!!

Oi!!!

   Não podia deixar de ser diferente, hoje abre a exposição fotográfica "Santa Vilania" de Gerson Roldo. Personalidades da noite de Porto Alegre retratados na pele dos mais diversos vilões. Da mitologia grega, dos quadrinhos, das histórias infantis e do cinema, a maldade em pessoa estará nas paredes do Venezianos Pub Café. Talvez o trabalho mais bonito e mais maduro desse fotógrafo que a mais de 10 anos trabalha com fotografia. Ansioso para ver, pois uma das características de suas exposições é mostrar o resultado final apenas no dia da abertura, e mesmo eu, que moro com ele e sou um dos vilões (a bruxa má do leste de O Mágico de Oz), ainda não me vi. Então não vou me alongar muito, segue o convite e que venham as maldades que essa noite promete.



Sidnei Akiyoshi

5 de set. de 2013

Terremoto à vista.

Oi!!!

   Eu já vivi um terremoto. Quando fui morar no Japão, logo após o terremoto de Kobe, acabei indo morar numa província vizinha, Osaka. E sempre depois de um grande terremoto alguns pequenos vão ocorrendo nos meses subsequentes. Eu estava num prédio no sexto andar quando tudo começou a tremer. Foi rápido, mas deu para assustar. Eu fui visitar Kobe e ver o estrago. Impressionante a quantidade de prédios que vieram abaixo. Mas uma coisa me impressionou, os Pagodes centenários continuavam ali, firmes e fortes.

   Para quem não sabe, pagodes são os templos budistas com mais de quatro andares. Pois em geral num centro budista há um grande templo central com pé direito bem alto e ao lado, ou em frente, um pagode. E são construções centenárias, todas feitas em madeira. E como que eles ainda continuam de pé num país onde tem terremoto a toda hora?



   O segredo dos pagodes está na filosofia de vida: Quando um força estrema te atingir, aja com delicadeza. Essas filosofias são retiradas da natureza, olhando o bambu sendo rechaçado pelo vento, o sábio percebe que ele não faz resistência e se curva. Mais ou menos assim funcionam os pagodes; no centro há um enorme pilar de madeira que une toda a estrutura do templo, mas não encosta no chão, ou seja, está flutuando. Quando o terremoto atinge o prédio ele se sacode todo e transfere a energia para o resto da estrutura. O pilar central "dança" ao ritmo do terremoto sem oferecer resistência e a energia do tremor é dividida para o resto da estrutura sem causar grandes danos.

   A vida cotidiana é muito baseada em concretos, precisamos de mais bambus.

Sidnei Akiyoshi

1 de set. de 2013

Melancolia.

Oi!!!

   O que é importante na vida para você?

   Do que você tem medo?

   É feliz de verdade?

   Quantas mentiras confortantes você acredita?

   Melancolia de Lars Von Trier fala disso. Assista. E acredite, não te fará feliz.


Sidnei Akiyoshi

25 de ago. de 2013

Para sempre...

Oi!!!

   Até o fim de suas vidas... Quando eu fotografava casamentos e escutava essa frase na igreja (era outra antes - até que a morte os separe - mas mudou pois mesmo que a pessoa amada morra, tem que continuar amando a mesma), eu ficava pensando nessas decisões que são para sempre. Hoje na velocidade do mundo contemporâneo é quase um acinte falar até o fim de suas vidas (a Gretchen que o diga, rs). Mas vale para tudo, tudo mesmo. Quantos já não deixaram alguém que jurava ser amor infinito? Quantos não mudaram de área de trabalho? E assim por diante.

   Pois essa questão de ter que tomar uma decisão que você terá que levar para o resto da vida é muito difícil, por isso muitos, melhor, a maioria vai levando a vida sem refletir sobre isso. É como aquela pergunta sobre o que você levaria para uma ilha deserta, pois estamos acostumados a ter um pouquinho de tudo. Mas levantei essa questão pois estou a quase quatro décadas pensando em qual tatuagem fazer. Acredito que só agora consegui definir o que quero, mas ainda com muitas ressalvas. E já que tenho que juntar o dinheiro para a tatoo, aproveito para ir revendo o conceito e o desenho que está esboçado. Afinal é algo que vou carregar até o fim da vida.

Não é esse desenho, mas é uma bela referência.


   Mas confesso que por trás disso está o medo do para sempre. Acho que sou assim desde o primeiro emprego que recusei quando o cara que me entrevistou disse: "Vou me aposentar em cinco anos e queria alguém para me substituir". Passei na entrevista mas nunca mais voltei. Mas acho que hoje, como o até o fim da vida está bem mais perto (acho que já passei da metade), sinto que posso ter escolhas que sejam para sempre, mesmo que logo ali na frente acabe, mas a ideia não me assusta mais como antes. Inclusive começo a achar até atraente. Talvez pela idade. Talvez por já ter experimentado muita coisa. Talvez por ser menos exigente, ou ,melhor, ser mais simples.

   E você? Já pensou no para sempre?

Sidnei Akiyoshi

20 de ago. de 2013

Work Hard ≠ Work a Lot

Oi!!!

   Na última postagem coloquei uma lista de atitudes que resume muito livro de autoajuda. Dentre elas estava "Work Hard" (trabalhe duro). E em tempos de tecnologia 3.0 é necessário se pensar as formas de trabalho. Desde que o filósofo italiano Domenico de Masi falou sobre o ócio criativo e que a tecnologia trará mais produtividade seguida de menos horas de trabalho, o que vemos por aí é gente trabalhando cada vez mais; ao meu ver pelos motivos errados, como já citei em outros posts aqui no blog. Temos inclusive essa máxima de que devemos trabalhar oito horas por dia. Isso foi criado no começo do século XX e implementada por Ford, pois deveríamos dividir a vida em três turnos: 1/3 de trabalho, 1/3 de descanso e 1/3 de diversão. E isso nunca mais foi questionado.

   Então quando digo trabalhe duro, não significa que você tenha que se matar trabalhando, mas sim que trabalhe com mais eficiência. Quantas vezes você não ficou em seu local de trabalho enrolando para parecer que estava trabalhando pelas oito horas que você era obrigado a cumprir quando você conseguiria terminar esse mesmo trabalho em quatro horas? Hoje, mais do que nunca, a produção é mais importante que o tempo trabalhado; pois existem equipamentos, tecnologias e técnicas que permitem ser mais eficiente com menos tempo trabalhado. Isso é fato e em quase todas as áreas, podemos trabalhar assim. Então veja o que você está fazendo e pense em produtividade e não em tempo trabalhado.

   Mas isso tem um contraponto perigoso. As empresas querendo sempre lucrar mais vão sempre aumentar sua meta, então se você produzia X e passou a produzir 2X, logo mais vão querer que você produza 3X. Então fique sempre de olho, se você aumentou a produtividade em 3, você tem que ser recompensado na mesma proporção.

João de barro trabalhando duro.


   Mas o foco desta postagem é outro, é trabalhar de forma mais eficiente para trabalhar menos. Para daí você ter tempo para outras coisa importantes na vida que estavam relacionadas na lista da postagem passada: se exercitar mais, ler mais, ser voluntario, relaxar, amar, enfim, viver.

Sidnei Akiyoshi

15 de ago. de 2013

Autoajuda.

Oi!!!

   Você tem algum problema em sua vida? A resposta é sim? Eu tenho a solução!!!

   Autoajuda. Sempre está entre os livros mais vendidos em qualquer livraria. Será que as pessoas estão com tantos problemas assim? Eu diria que as pessoas tem UM grande problema, é achar que tem muitos problemas. Mas aí eu me questiono o por que de tantos terem tantos problemas? Mas vamos separar algumas coisas. Alguém pode ter uma doença grave, um câncer por exemplo. Ela tem um problema bem específico que requer ações bem específicas que podem ter os seus percalços, como a demora no atendimento público, por exemplo. Mas em geral, as pessoas procuram livros de autoajuda por outros motivos; como ganhar mais dinheiro, como ser mais magra, como ser mais bonita, como ser mais eficiente e por aí vai. E na minha opinião, a maioria das pessoas não precisa disso tudo. Elas desejam, mas não necessariamente precisam.

   Nesse ponto eu coloco uma fala do Michel Foucault em Vigiar e punir: "As instituições organizam-se de forma a reproduzir a submissão e produzir os corpos dóceis que culmina na subordinação social, na dominação, na alienação e aceitação." Vou dar um exemplo: o slogan da Coca-cola é "Viva o lado Coca-cola da vida" e antes, "Abra felicidade". Apesar você gastar dinheiro com algo que vai te deixar mais gorda, mais feia e menos eficiente (dentro de padrões sociais impostos) você ainda acredita na felicidade que aquilo te promete. Ou seja você é um corpo dócil que aceita e reproduz essa ideia; e o pior, julga quem não faz isso. E isso vale para qualquer coisa, desde trabalhar muito mais do que você realmente precisa a fazer uma lipoaspiração, passando por comprar o último lançamento de celular. Você se subordina, aliena e aceita.

   Ninguém precisa deixar de beber coca, ou de trabalhar muito, ou comprar qualquer coisa tecnológica, mas precisa saber o que quer na vida e principalmente ter controle sobre ela. Não é porque todo mundo faz algo que você também tenha que fazer. Pois esse desejo por algo que você não precisa é o que causa a infelicidade, que te leva a comprar aquele livro de autoajuda, que supostamente te ajudará a conseguir.

   Tenho aqui algumas dicas de autoajuda para você viver melhor: SEJA VOCÊ.


Sidnei Akiyoshi.

10 de ago. de 2013

Delicadeza.

Oi!!!

   Delicadeza é algo em extinção atualmente. Pois delicadeza é contraponto de eficácia. Pois para se fazer algo delicado precisa de cuidado, paciência e tempo, e isso tudo geralmente não vem ligado à eficácia. Geralmente, claro. Por isso, sempre gostei da forma como japoneses lidam com a vida, da culinária ao convívio, tudo com muita delicadeza, as vezes até em excesso. Mas nos detalhes se mostra o cuidado que se tem com o próximo, coisa que as vezes muitas pessoas esquecem, sim as pessoas esquecem que interagem com outras pessoas e agem egoisticamente de forma grosseira.
   E essa grosseria se espalha como vírus sem que as pessoas se quer  se deem conta que estão sendo, achando aquele gesto, normal. Podemos partir do básico obrigado e por favor, mas vai muito além quando interesses estão em pauta, como o "espaço" do seu carro no transito ou "jeitinhos" em serviços públicos naturalmente burocráticos.
   A culinária é um bom lugar para se praticar isso, pois é um tempo seu que você dedica a alimentar outras pessoas. É claro que não precisa fazer pratos elaborados como um chef, mas alguns cuidados e principalmente, algumas escolhas fazem daquela sua refeição algo delicado mostrando que você se importa com quem está convivendo. Tente, nem dói tanto assim.


  E obrigado pela delicadeza de ler esse post.

Sidnei Akiyoshi

6 de ago. de 2013

Espaço vácuo.

Oi!!!

   As vezes por por um bom tempo na vida fazemos determinada atividade, algo que está no cotidiano que nem percebemos mais que estamos fazendo, fazemos porque tem que fazer, fazemos no automático. Não falo das coisas básicas, como escovar os dentes ou tomar café da manhã. Falo de algo que de certa forma há uma interação com outra pessoa, pois a interação pode ser apenas sua, ou apenas visual, ou uma quase não interação, mas está ali constantemente na sua vida. Como uma casa antiga que está no seu percurso diário ou um senhor que sempre está sentado no mesmo banco de uma praça.
   Um dia, do nada, essa interação acaba.



   Sabe aquela sensação de vazio. Um vazio estranho, pois aquilo que estava tão arraigado em sua vida foi-se. E sempre que isso acontece vêm aqueles pensamentos se estamos dando valor aquilo que realmente importa na vida. Pois tudo é tão fugaz que quando se vê, acabou. Nossa contemporaneidade é repleta disso, como numa viagem de trem, onde aquilo que está longe passa devagar, mas aquilo que está bem próximo, quase nem vemos.
   Em geral, temos um período de luto por aquilo que deixou de existir, mas depois passa e procuramos ocupar aquele vazio com outra coisa. Pois o vazio, nessa nossa estranha contemporaneidade, incomoda.

Sidnei Akiyoshi

2 de ago. de 2013

Um "Q" a mais.

Oi!!!

   Hoje peguei a ideia do post (que tá atrasado) da minha querida amiga Joss Cunha. Ela disse: "Tem dias que nada de especial acontece, mas parece que acordamos com um "Q" a mais, com uma empolgação vinda de algum lugar não específico, que nos faz cantarolar sem perceber...". Isso geralmente eu também tenho. Aliás essa semana teve uma conjunção astrológica rara que ativa a sensibilidade daqueles que trabalham com arte e misticismo, juro que senti isso a semana toda. Mas o meu questionamento aqui não é nem essa empolgação, mas o que seria esse "Q" a mais?



   Não achei nada muito explicativo, pensei nos cromossomos e até uma explicação literária. Mas achei algo que talvez, não explique, mas justifique, alguém ter um "Q" a mais. No início do século vinte as forças armadas da Inglaterra criaram o Código Q, diz o google: "O Código Q é adotado internacionalmente por Forças Armadas e trata-se de uma coleção padronizada de três letras, todas começando com a letra "Q", inicialmente desenvolvida para comunicação radiotelegráfica comercial, e posteriormente adotada por outros serviços de rádios, especialmente o radioamadorismo.". Achei isso incrível, pois independente da língua que você fale, se você tiver o conhecimento do Código Q, pode trocar informações, pertinentes ao trabalho das forças armadas, claro, com qualquer outro conhecedor dessa linguagem usando apenas 3 letras. Um exemplo: QRD: Aonde vai e de onde vem? E a resposta pode ser: Brasil - Pasárgada.

   Então se você tem esse "Q" a mais pode se comunicar muito mais.

   E você, QAP?

Sidnei Akiyoshi

28 de jul. de 2013

Iniciativas e Acabativas.

Oi!!!

   Hoje serei bem breve em meu texto pois, além de estar atrasado, preciso dar acabativas a determinadas iniciativas.

Lauren Spencer King



   Peguei esse tema da minha querida amiga Luiza Lisboa, que disse que está cansada de pessoas com iniciativas e queria mais com acabativas. Pois talvez esse seja um dos males da nossa contemporaneidade, muitas ideias e poucas realizações. Sei que ter ideias não é algo fácil, você precisa estar fora da caixinha e ter a mente aberta para fazer aquilo que não existe, aquilo que se achava impossível de fazer até alguém fazer. Mas por em prática a maioria das ideias requer tempo, trabalho e dedicação. E essas três palavras as pessoas contemporâneas fogem com afinco, pois vão contra o mantra mais pronunciado: imediatismo.

   Eu sempre me coloco como o sujeito inserido nisso. Tenho quatro linhas de pesquisa em artes (encáustica, apropriação/foto, colagem e texto/foto) todas são ideias bem interessantes, mas sempre estou postergando por "N" motivos o desenvolvimento mais aprofundado. Tirando a encáustica que tá um pouquinho melhor o resto está um pouco depois da iniciativa... então já que hoje acordei com desejos, vou lá pro ateliê.

   Espero que vocês pensem nas suas iniciativas que estão sem acabativas aí em suas vidas. Como disse num post anterior, coloque um fim, mesmo que parcial, pois é melhor ter pequenas acabativas que nenhuma.

Sidnei Akiyoshi.

20 de jul. de 2013

O tecido da amizade.

Oi!!!

Como é dia do amigo, um texto teórico sobre amizade, de J.P. Vernant no livro Entre mito e política.



   "Existimos com e pelos outros, que, ao mesmo tempo, são e não são como nós. (...). É assim também que se tece a amizade, por meios de percursos mais ou menos difíceis, de fracassos, de contra-sensos, de retomadas... Não existe imediato nos homens, tudo acontece por meio de construções simbólicas.
   Por vezes, também, é preciso dar umas tesouradas no tecido, mesmo com pessoas que gostamos muito, cortar para que o tecido continue.
   (...)
   ..., que são amigos aqueles com os quais temos as coisas essenciais em comum: as lembranças, as experiências, os valores... Dizer que entre amigos tudo é comum significa que existe, como na cidade grega, uma relação particular de igualdade em virtude da qual a própria vida privada, ao menos em muitos de seus componentes, é compartilhada com os outros; não é só porque podemos dizer aos amigos coisas que não diríamos a outros; mas as recordações, as alegrias, as tristezas, que nada têm a ver com o domínio público, no sentido grego do termo, e sim com o que eu chamaria de próprio, particular, são vivenciadas na participação com os outros em uma relação de troca igualitária.
   Com efeito, a igualdade é fundamental na amizade. Quando se é amigo, mesmo se existir discordância ou rivalidade, é-se igual. Para um grego, só é possível ter amizade por alguém que é, de alguma forma, um semelhante: um grego para outro grego, um cidadão para com outro cidadão."

Sidnei Akiyoshi

16 de jul. de 2013

Onde quer chegar?

Oi!!!



Alice: Você poderia me dizer, por favor, qual o caminho para sair daqui?
Gato que sorri: Depende muito de onde você quer chegar
Alice: Não me importa muito onde...
Gato que Sorri: Nesse caso não faz diferença por qual caminho você vá
Alice: desde que eu chegue a algum lugar
Gato que Sorri: Oh, esteja certa de que isso ocorrerá, desde que você caminhe o bastante.”
   Eu acho que o mal da maioria das pessoas é não saber onde quer chegar. Eu sempre me questiono onde estarei daqui a um, cinco e dez anos. Faço isso desde os 20 anos e quase sempre cheguei onde queria. Sei que isso é difícil de fazer, mas em geral, as pessoas nem tentam. Isso serve, primeiramente, para a vida pessoal. Pode começar separando: trabalho, estudos, diversão, viagens, coisas, amores; tá, esse último confesso que é bem mais complicado, mas pode começar pensando, não no que você quer n@ outr@, mas no que abrirá mão pel@ outr@.

   Mas depois pode expandir isso para o coletivo. Onde você quer que as suas coletividades estejam daqui a um, cinco e dez anos. Desde a sua família até o seu país. Falo isso por uma pequena reflexão sobre as manifestações, e mais precisamente, pelos cartazes. Em geral as pessoas sabem o que não querem, mas não tem muita ideia do que querem. Mas é bom lembrar que querer é um sentimento de volição, de desejo; você pode querer o impossível, é plausível, pois é um desejo. Mas em geral o querer vem junto com o merecer, e mais em geral ainda não merecemos o que queremos; pois merecimento requer empenho, trabalho, e na maioria das vezes isso não é feito. É como ganhar a sobremesa SE comer o brócolis, como viajar para Paris SE economizar dinheiro, como ter um país melhor SE se engajar eticamente em política; e tudo isso requer empenho: comer aquela coisa verde, não gastar com supérfluos, dedicar uma parte do seu tempo.

   Eu sei que os meus próximos dez anos vão ser dedicados ao trabalho e consequentemente aquisição de bens e economia. Como isso se dará, está se encaminhando, pois os caminhos só são decididos depois do destino.

Sidnei Akiyoshi

11 de jul. de 2013

Continuidade

Oi!!!

   Já falei aqui sobre aceitar os próprios erros. Isso é bom e resolve boa parte dos problemas, pois ou você aceita o erro e resolve ou aceita que ele é irremediável e desencana. Lembrando que para resolver algo existem dezenas de maneiras, desde o pega e faz até o manda fazer.

   Aceitei que tenho erro de continuidade. Como nos filmes, em que o personagem principal sai de casa com uma camisa branca e aparece logo em seguida com uma vermelha (no caso não era um filme tipo walking dead), então entendemos que em algum momento houve a troca e nós observadores do filme não fomos informados. Pois eu tenho isso.



   Em empreendedorismo isso se chama perder o foco, mudar o rumo, desviar de objetivos, mas no linguajar popular podemos dizer que é o famoso: começa mas não termina. Eu diria sim e não, pois olhando de pertinho parece caótico, mas no macro até que faz sentido. É que quando olhamos de forma mais administrativa as metas parecem não fazer sentido, pois em geral na minha vida elas não são mensuráveis. Por exemplo: ter um carro é algo mensurável, ele custa tanto para comprar e tanto para manter, bem simples de entender. Agora quando falamos em conhecimento... começa a complicar. Internet exemplifica bem isso, você começa procurando qual tipo de incenso é bom para concentração e acaba lendo sobre a confecção de turíbulos na Idade Média. Pois uma coisa puxa a outra e quando se vê está tudo entrelaçado. E isso se comprova fazendo um simples "mind map": aprender inglês - mestrado - artes plásticas - literatura - contar histórias (em inglês?).

   Estou pensando em mensurar esse conhecimento. Só assim deixarei de perder a continuidade. E como vou começar a lecionar, refleti que uma das formas de medir se aprendeu é se sabe passar esse conhecimento. Talvez não seja o melhor método, talvez eu precise de uns 200 anos ou talvez eu compre uma camisa vermelha. Vamos ver a continuidade disso. Com certeza não virá o Oscar de melhor figurino, mas é bem provável que venha o de melhor roteiro original.

Sidnei Akiyoshi

5 de jul. de 2013

"Humores" texto da exposição.

Oi!!!

Segue o texto da minha exposição "Humores" que está no Venezianos Pub em Porto Alegre até dia 22/07.





Humores - Encáustica sobre tela - 60x80 cm - 2013




“Humores“

            Essa exposição “Humores”, reuni algumas obras que fazem parte dos meus estudos recentes em arte, onde faço uma relação entre arte-corpo-sociedade. Duas técnicas aparecem em preponderância: a encáustica e a colagem.  Como estudos, as peças são feitas em tamanho reduzido, o que ajuda no entendimento da técnica como no desenvolvimento das ideias.

            O corpo surge como elemento disparador da criação. De sua pele às entranhas, tudo é motivo para pensar o corpo como elemento intrínseco à arte. Dissecada as materialidades é necessário observar como elas se relacionam com a sociedade, como diz Merleau-Ponty: “O enigma consiste em meu corpo ser ao mesmo tempo vidente e visível. Ele que olha todas as coisas, pode também se olhar, e reconhecer no que vê então o “outro lado” de seu poder vidente. Ele se vê vidente, ele se toca tocante, é visível e sensível para si mesmo. É um si, não por transparência, como o pensamento, que só pensa seja o que for assimilando-o, constituindo-o, transformando-o em pensamento – mas um si por confusão, por narcisismo, inerência daquele que vê ao que ele vê, daquele que toca ao que ele toca, do senciente ao sentido – um si que é tomado portanto entre coisas, que tem uma face e um dorso, um passado e um futuro...”. Um corpo que se vê do avesso e extrapola seus humores para além das aparências.

            Segundo Hipókrates, o pai da medicina, existem quatro tipos de humores:  A bile amarela (humor colérico), bile negra (melancolia), sangue (sanguíneo, alegre)e fleugma (fleugmático, frio). O desequilíbrio entre esses humores é o que gera as doenças, consequentemente o equilíbrio, saúde. Esses humores se refletem na sociedade, ora mais escondidos, ora se mostrando, mas o mais evidente: em total desequilíbrio. 

            Entre quente e frio, seco e úmido, essa exposição “Humores” tenta trazer um pouco da minha visão sobre o que é ou pretende ser nossa sociedade contemporânea, ou líquida, como diz Zygmunt Bauman.  Um sociedade que altera seus valores e se transforma rapidamente para se adaptar aos mais diferentes propósitos, sejam eles nobres ou devassos. Contanto que ao final, reste sempre um” bom” humor.

Sidnei Akiyoshi

30 de jun. de 2013

Estamos bem mesmo sem você?

Oi!!!

Escrevi depois de ver um filme que não lembro o nome...



Presenças e distanciamentos.

O que é mais pernicioso?

Estar perto é infeccionar-se com a existência alheia,

é espelhar igualdades e refletir diferenças.

É ter que negociar destinos em conjunto.

Estar longe é manter-se isolado.

É livrar-se dos inconvenientes;

mas ter que dialogar com o espelho.

É livre.

Mas há destino?

Estamos bem?

Sidnei Akiyoshi

25 de jun. de 2013

Partidos políticos: cuma?

Oi!!!

   Em sequência aos posts políticos, que naturalmente se fazem necessário, hoje venho falar de partidos políticos. Muito pela hostilização que tiveram nas últimas manifestações. Mas o que é um partido político: "União voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e políticas, organizada e com disciplina, visando a disputa do poder político" (NILDO, Viana). É bem claro a definição. Vale lembrar que no Brasil não pode existir o Partido Nazista, o Fascista e o Monarquista.

   Agora, por que da hostilização aos partidos políticos? Bem, isso é complicado mas tentarei colocar o pouco que eu entendo. Primeiramente o brasileiro não tem o costume de se organizar em grupos, e quando se une a burocracia acaba os afastando. Afinal para ser organizada e com disciplina é necessário ter regras que geram a burocracia. Para quem conhece o funcionamento de uma assembleia, por exemplo, sabe que mesmo com regras é possível manipular através da burocracia. É o que eu chamaria de vencer pelo cansaço. Mas o que mais contribui para a negação aos partidos políticos são as afinidades ideológicas e políticas. As siglas em geram expressão as ideologias; PCdoB (Partido Comunista do Brasil) é a grosso modo aqueles que seguem a ideologia comunista, mais estatais; PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) que, a grosso modo também, são os que defendem uma ideologia de centro, ou um meio termo entre estatal e privado. Como em geral as pessoas não entendem de ideologia política, não escolhe nenhum.





Visão do brasileiro sobre partidos políticos.

   Mas os que tem alguma noção também estão descontentes. Aí temos duas coisas: o descompasso entre o que pregam e o que fazem, ou seja, você escolhe um partido pensando que ele fará uma coisa mas quando chega ao poder faz outra, desviando de sua ideologia. Outra coisa é a particularização das ideologias dentro dos partidos, onde cada político individualmente vota de acordo com os seus interesses, mesmo que contrário aos interesses do partido. Com isso tudo fica difícil para o cidadão comum "tomar partido". Isso sem contar as manobras do "toma lá, dá cá", ou seja você vota comigo nisso que depois eu voto naquilo com você. (No filme MILK, isso dá para ver bem claro como funciona). E eu acredito que isso seja o que mais deixa os eleitores desgostosos com os políticos.


   Talvez por isso a tão falada Reforma Política se faz necessário, e onde o voto distrital talvez seja a mudança mais importante, pois significa que o candidato que vai te representar seja da sua região e não aqueles mais votados na capital, ou pior, aqueles que se elegem com o voto dos outros. Mas existem muitos outros pontos da Reforma Política que devem ser debatidos.

   Mas para finalizar eu diria que o principal fator para não participação em Partidos Políticos seja a burocracia. Afinal, quem gosta?

Sidnei Akiyoshi

20 de jun. de 2013

Como funciona o Estado?

Oi!!!

   Os R$0,20 já foram reduzidos. Mérito desse povo todo que saiu às ruas para se manifestar. Mas isso é bem pontual e qualquer governante consegue transferir verbas de alguma outra área, ou da mesma, para cobrir esse "desfalque". "E agora Jose?" Como diria nosso querido Drummond.
   Vejo outras pautas nas reivindicações como a PEC-37, fim da corrupção e até impeachment. Mas isso é muito mais complexo do que se pode se imaginar. Lembro quando fizemos uma greve de alunos na FFLCH-USP por mais professores. Foram 106 dias de greve, com muitas manifestações, até conseguirmos a contratação de 92 professores para a faculdade, na pauta eram 256. Mesmo assim foi uma vitória, pois cursos que fechariam, não fecharam.
   Mas para conseguirmos isso, além das manifestações, foram muitas reuniões, assembleias, e principalmente, comissões. Foi através delas que as conquistas surgiram. Nelas eram estudados os regimentos da FFLCH e da USP e encontrado as brechas jurídicas para obrigar o Estado a intervir e assim ser liberada a contratação.


   Bradam que nas urnas se fará a diferença. Acho isso uma falácia, pois o sistema está viciado. Independente de quem entrar, se não entrar no sistema será engolido por ele. Pois muita coisa errada em política, na verdade é feita na legalidade, utilizando as brechas que existem nas leis. Por isso digo, o próximo passo é entender o funcionamento do Estado, para daí saber onde atuar como cidadão. Isso dá trabalho? Sim é muito trabalhoso. Mas pode-se unir a outros que estavam acordados antes já fazendo isso. Mas em casa mesmo você já pode começar... aposto que nunca nem pegou a constituição brasileira na mão. Pode começar por aí, saber os direitos e deveres seus e de quem você coloca para governar.
Boa leitura.

Sidnei Akiyoshi