16 de dez. de 2011

Ratos - Conto que está na final do Mapa Cultural Paulista.


Ratos

Acorrento Odisseu. Há ratos. Odeio ratos. Antes não haviam ratos na América. Os europeus trouxeram os ratos. Nenhum flautista. Somente ratos. Os ratos eram de todos os cantos da Europa. Acredito nisso porque uns comeram meus Baudelaires, outros meus Nietzsches e até um Platão foi levemente beliscado. Mas a gota d`água foi quando aprenderam português. Enquanto comiam revistas e jornais eu não me importava. Outro dia cheguei em casa e minha doce Clarice estava em frangalhos. Fossem as baratas, tudo bem, teriam esse direito. Mas ratos, não! Comprei veneno. Um barato. Espalhei pela casa. Longe do Odisseu. Odisseu é meu cão. Meu cão europeu. Cão europeu que come ração cara. Algum desígnio divino o fez livre. E assim como Odisseu foi para muito longe, Odisseu foi muito além. Odisseu conheceu Cleópatra. Eu não.